quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Implacável Chronos

O início do capitalismo e da Revolução Industrial aceleraram o tempo de maneira inédita e, a cada nova Revolução Industrial, sentimos claramente o aprofundamento dessa aceleração. A mercantilização do tempo cronológico, a competição e a busca por maior eficiência tornaram a humanidade escrava de seus próprios feitos e, no final das contas, da sua existência.
Tic, tac...
O justo direito ao ócio passou a ser negado graças às condições materiais estabelecidas. O trabalho na sociedade capitalista é pautado por uma exploração progressiva da mais-valia, evento que, em suas conseqüências, provoca mudanças sociais cujos efeitos não estamos preparados para acolher.
Tic, tac...
A vida social submete-se à vida do trabalho. Os particularismos e individualidades são exaltados em detrimento da coletividade e as liberdades individuais tornam-se mais importantes que a liberdade coletiva.
Tic, tac...
Na mitologia grega, Chronos era o Deus do tempo, nunca suficientemente cultuado. Hoje, é temido graças ao seu poder de tragar a todos...
Tic, tac...
Praeteritum tempus umquam revertitur é o lema! Menos tempo para ir à minha Pasárgada!
Tic, tac...


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Reflexões com 10% de álcool

O saudosista é aquele que não se esqueceu de idealizar o passado.
O utópico é aquele que não se esqueceu de idealizar o futuro.

domingo, 13 de setembro de 2009

As flores e os espinhos do Cerrado


De dia, um sol escaldante, ar seco, dificuldade ao respirar, o horizonte parece infinito, poucas nuvens no céu, grandes distâncias a cumprir no espaço. O sol bronzeia o corpo involuntariamente. A sede chega. Traz consigo o cansaço...
Enfim, chegamos a algum lugar. Identificamo-nos na portaria, subimos pelo elevador, chegamos ao andar, entramos no auditório da palestra, assinamos nomes que não são conferidos. Quadros e panfletos com muitas estradas novas, outras sendo construídas... (Vamos mudar de sala?)
Caminhamos para outro auditório, entramos no novo espaço, novamente assinamos nomes que não são conferidos - que bela herança ibérica esse excesso de burocracia!
Estamos no Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes ouvindo o seu próprio diretor-geral. Dragagem nos rios amazônicos para retenção de água doce! Construção de mais estradas! Rodovias sinalizadas ocupadas por motoristas imprudentes! Necessidade de desburocratizar o serviço público – a começar pelas assinaturas a cada sala que entramos, excelência, penso eu.
Para um órgão com um orçamento de 17 bilhões de reais anuais não enxergo muita beleza na visão estratégica do desenvolvimento e da importância ambiental no país da maior floresta equatorial do mundo.
Fome. Olho para o lado e vejo pessoas prestando muita atenção... Nas fotos tiradas pela manhã, nas mensagens que chegam nos celulares, no botão da camisa...
Fim de palestra.
Hora do almoço. Nova caminhada até o restaurante lotado do Congresso. Comida boa e barata é o lado positivo. Almoçamos e conversamos sobre a viagem, as palestras, assuntos aleatórios. Tem sorvete de bacuri, cupuaçu, cagaita, abacate, jabuticaba!! Esse é o Brasil saboroso! Brasil do Cerrado! Uma das facetas caleidoscópicas de um país... Ou talvez mais de uma delas ao mesmo tempo.
São 13h30, vamos continuar?
Cruzamos os túneis do anexo três da Câmara rumo ao Senado. Deputados e senadores conversando com seus assessores ou com seus companheiros inseparáveis, os celulares. Olha o Patrus Ananias ali! Estamos aqui! Passamos por várias comissões... Eles discutem defesa do consumidor nessa... Ah, mas nessa outra tem o pré-sal! Vou entrar aqui, mais tarde nos encontramos.
Assisto ao debate sobre o novo modelo de exploração do petróleo em águas ultra-profundas. O debate é animado entre os sindicalistas da Petrobrás (Que visão tinha esse Getúlio!) e senadores. Criação da PetroSal, posição de destaque do Estado brasileiro na exploração desse bem recém-descoberto e tão cobiçado, constituição de um fundo a ser mantido com o dinheiro proveniente dessa exploração. Dinheiro esse que deve ser investido em áreas sensíveis e estratégicas. Esse é o tom da discussão na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.
Saio da sala.
Encontro-me com as outras pessoas. Fim de tarde. Chove na capital da República. Não, não é qualquer chuva não! É uma daquelas chuvas fortes, redentoras.
Tomamos a rota do ônibus. Está longe! Vamos andando que a chuva consagra!
Subimos. Torre de tevê é o próximo destino. Estão todos reunidos – estão mesmo? A chuva pára assim que entramos no ônibus.
Afundamo-nos nas poltronas. O cansaço mostra sua feição. Passamos pela Praça dos Três Poderes – Montesquieu vive! -, seguimos pela Esplanada dos Ministérios. Todos aqueles prédios iguais um ao lado do outro nos dois lados do Eixo Monumental realmente dão a sensação de grandeza.
O sol volta a dar as caras.
Chegamos à Torre de tevê. A torre está fechada, entretanto podemos caminhar entre as barraquinhas e comprar lembranças da cidade. É o que faço... Ando, vejo aquela bata azul e verde. Ela olha de volta para mim. É minha! Já saio vestindo meu novo presente. Continuo andando e procurando algo – o que será?
Ah, é isso! A deusa da Justiça, o Congresso Nacional brasileiro e o Planalto na mesma arte! Os Três Poderes harmônicos e independentes! É como comprar uma arte e levar três! Lembrança ideal dessa cidade para um futuro Gestor de Políticas Públicas.
Voltamos ao ônibus. Já são 18h.
O sol vai se pondo, a alvorada é generosa. A noite será linda e merecida depois de um dia tão quente.
Conversamos sobre o dia proveitoso e as experiências extraídas.
Chegamos ao alojamento da Escola Nacional de Administração Pública. Quero um banho, ao contrário do que dizem por aí...
Saio do banho, pego a toalha, escovo os dentes, coloco a roupa, abro a porta do quarto, desço as escadas, vou até o gramado e não resisto: deito na relva. A noite é agradável.
Deitado, olho para cima e penso: céu estrelado esse do Cerrado, lua nova alaranjada e próxima ao horizonte – parece estar tão imediata a mim -, somos pequenos em meio a esse firmamento, impotentemente pequenos.
Quero continuar pensando, mas a fome passa a atrapalhar.
Vamos à pizzaria?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Minha Pasárgada

Todos nós temos uma Pasárgada!! Sim, ela é aquele recôndito em que repousam nossas fantasias, onde buscamos ser levados pela brisa da nossa imaginação. A Brisa de Pasárgada!
Pasárgada é o recanto das vagas reminiscências, dos sonhadores mais utópicos, das idéias mais arrebatadoramente belas...
Em Pasárgada o ar é suave, os sentimentos são bons e abrasivos, a terra é fértil, a água é azul celeste, o céu é infinito e... Oh, podemos tocá-lo!
Em Pasárgada não precisamos ser amigos do rei, pois cada um é rei de seus próprios sonhos dourados!
Deixe-se levar pela brisa e navegue pela minha Pasárgada...
Já que Pasárgada é a inspiração desse nascente blog, não poderia deixar de postar o poema do Manuel Bandeira


Vou-me Embora pra Pasárgada

“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”